Muito antes de Yuval Harari lançar seu best seller “21 lições para o século 21” (2018), Marilyn Ferguson, John Naisbitt e Alvin Toffler anteciparam a história ao publicar no início da década de 1980 seus livros, que consideramos hoje como “clássicos futuristas”: “A Conspiração Aquariana” (1980), “Megatendências” (1982) e “A Terceira Onda” (1980), respectivamente.

À sua maneira, cada um apresentou ideias ousadas sobre transformações sociais, políticas, econômicas e culturais. Mudanças impactantes, visões futurísticas e o impacto de novas consciências, tendências e tecnologias.
Acertaram na mosca ao apontar a mudança para uma era mais conectada digitalmente, guiada pela tecnologia, informação e autoconsciência – ponto comum das previsões de Naisbitt, Toffler e Ferguson.
Escritos em um momento histórico distinto, é fácil reconhecer ideias que hoje fazem parte do nosso dia a dia. Mas, tal como as previsões de Harari, nem tudo se concretizou como apresentado, mas, mesmo após 45 anos, ainda oferecem insights interessantes sobre os desafios e as oportunidades do nosso tempo, mostrando o quanto a tecnologia e a informação continuam a moldar nosso futuro.
A seguir, uma análise individual de cada futurista. 😉
A Conspiração Aquariana (1980) – Marilyn Ferguson

O projeto deste livro começou em 1976 e foi lançado em 1980, eu tinha uns 7 pra 8 anos quando vi meu pai com este livro, capa vermelha e um símbolo com elos entrelaçados que me encantava – parecia o logotipo do Unibanco! Mas, por ser um “aquariano raiz” eu ficava feliz em saber que a conspiração era “Aquariana”! Infelizmente não tenho mais aquela edição tão especial, mas o conteúdo da atual é o mesmo e apresenta as seguintes previsões e conexões:
- O despertar e ascensão de uma “Nova Era”, conhecida como a Era de Aquário. Marcada pela evolução da consciência humana, integrando práticas espirituais e holísticas em diversos aspectos da vida cotidiana. Ferguson fala da transição de um mundo materialista para um mais voltado para a autoconsciência, harmonia e equilíbrio interior.
- A autora também prevê o crescimento de movimentos de autodescoberta, terapias alternativas e novas práticas espirituais que buscam a cura integral do ser humano. A popularização de terapias como a meditação e a psicologia humanista também é antecipada.
Previsões Concretizadas: O crescimento das terapias alternativas e práticas de autoconsciência realmente ganhou força nas décadas seguintes, especialmente com a crescente popularidade de movimentos como o mindfulness, o yoga e a psicologia positiva. A cultura da busca espiritual expandiu-se, refletida no aumento de práticas como meditação, astrologia e o consumo de produtos que prometem uma conexão com uma “energia superior”.
Previsões Não Concretizadas: Embora o movimento de transformação espiritual tenha se consolidado, a transformação global imediata da consciência coletiva não se concretizou de maneira universal, como Marilyn Ferguson apontou. O mundo continua marcado por conflitos culturais e religiosos.
Megatendências (1982) – John Naisbitt

Adoro tanto esse livro que até apresentei trabalho na escola usando ele. Não são simplesmente tendências, são MEGATENDÊNCIAS. E todas as 10 previsões apresentadas por John Naisbitt sempre fizeram muito sentido pra mim. Aqui fica mais claro descrever as previsões e conexões em uma tabela:
Tendência | Descrição |
1. Sociedade industrial → sociedade da informação | O foco sai da produção de bens físicos e vai para o processamento de informações. O conhecimento se torna o novo capital. |
2. Ajuda técnica → alta tecnologia com toque humano | Mesmo com avanço tecnológico, há maior valorização de experiências humanizadas e empáticas. |
3. Economia nacional → Economia mundial | A economia e a política deixam de ser nacionais e passam a operar em redes globais. A interdependência entre países cresce. |
4. Curto prazo → Longo prazo | Uma mudança de foco para a tomada de decisões de longo prazo, visando a perpetuidade, em vez de decisões baseadas em resultados imediatos. |
5. Centralização → descentralização | Governos e organizações buscam estruturas mais ágeis e distribuídas. A tomada de decisão é transferida para níveis locais. |
6. Ajuda institucional → autoajuda | Crescimento da cultura do “faça você mesmo”. As pessoas assumem mais responsabilidade pelo próprio bem-estar. |
7. Representação → participação direta | A sociedade demanda mais envolvimento nas decisões; cresce o engajamento político e comunitário. |
8. Hierarquias → redes | Estruturas verticais são substituídas por redes horizontais, mais flexíveis e colaborativas. |
9. Norte → Sul | O crescimento populacional e econômico migra do hemisfério norte (países desenvolvidos) para o sul (emergentes). |
10. “Isto ou aquilo” → opções múltiplas | Valoriza-se mais a qualidade de vida, o bem-estar e os serviços personalizados do que bens materiais. |
Previsões Concretizadas: A informação e a conectividade digital tornaram-se pilares centrais da economia global, com a popularização da internet e da era digital, fato que transformou profundamente as relações de trabalho e as empresas. A globalização foi acelerada e se consolidou nas últimas décadas, refletindo o aumento do comércio internacional e o crescimento de empresas globais.
Previsões Não Concretizadas: A descentralização do poder político não ocorreu de forma tão ampla ou imediata. Embora haja avanços em termos de movimentos descentralizados, como as criptomoedas, muitos governos continuam centralizados e altamente centralizadores em várias partes do mundo.
A Terceira Onda (1980) – Alvin Toffler

Foi muito interessante revisitar este livro, a explicação das “ondas” é tão lógica que parece óbvia! Mas sempre me levou a refletir: qual será a próxima onda? Já passamos pela quarta, dizem que estamos na quinta e autores já apontam qual será a sexta onda. Porém, sabemos tem muita gente ainda estagnado na segunda onda então, faz todo sentido rever as previsões e conexões apontadas por Toffler:
- Toffler descreve uma transição histórica da “primeira onda” (sociedade agrícola) para a “segunda onda” (sociedade industrial) e, finalmente, a “terceira onda” (sociedade pós-industrial). A terceira onda seria caracterizada pela informação, conhecimento e tecnologia substituindo a produção industrial como motor econômico, com o surgimento de novas formas de trabalho e novas tecnologias transformando a sociedade.
- Revolução das Tecnologias da Informação: Ele anteviu um mundo no qual computadores e redes de comunicação seriam os alicerces de uma nova organização social e econômica, onde a informação se tornaria um bem fundamental.
- Mudança na Estrutura de Trabalho: Toffler também previu a crescente flexibilidade no trabalho, com o surgimento do trabalho remoto e a fragmentação da jornada de trabalho.
Previsões Concretizadas: A sociedade da informação tornou-se uma realidade com o advento da internet, dos computadores pessoais e das tecnologias digitais. E a flexibilização do trabalho, incluindo o trabalho remoto, se tornou uma parte significativa da dinâmica laboral, especialmente em tempos mais recentes, com a pandemia de COVID-19 acelerando essa transição.
Previsões Não Concretizadas: Apesar do crescimento das tecnologias de informação, a transformação social prevista para a “terceira onda” não foi tão completa. Desigualdades sociais e econômicas não desapareceram, ao contrário, em muitos aspectos, se agravaram.